sábado, 30 de julho de 2011

Cena 3 - Uma fresta contra o tempo paralisado

(Parada na porta, olhos fixos no envelope com a passagem de avião.)

Helen:
Sem cabimento. Fora de cogitação.

(Deixa o envelope em cima da mesa. Vai até a janela. Abre um fresta pequena da cortina pesada. Assiste a partida do carro do visitante. Uma luz forte vinda de fora faz com que ela feche as cortinas novamente e se afaste da janela.)

Helen:
Deixar o livro aqui? É assim que eu devo honrar a sua memória já tão enevoada, tão envelhecida pelo esquecimento do tempo? Eles não percebem? Já não é mais uma questão de fugir ou ser pega. Não se trata mais de ideologias ou certezas.

( Sai e volta com uma gaiola coberta por um pano escuro, o mesmo pano das cortinas do seu apartamento. Abre uma pequena fresta para olhar dentro da gaiola. Ouve-se um canto triste do pássaro.)

Helen:
É uma questão de não conseguir... não poder... não ter mais o que é preciso pra sair. Não há coragem para libertar o que me consome, o que me paralisa. Um escuro que gela os dedos, não consigo abrir... Vejo sombras em florestas imaginárias, existentes apenas na mente de uma criança esquecida na prisão do tempo. Um tempo sem você.  

(Pega novamente o envelope com a passagem, ameaça abri-lo. Desiste.)

Helen
 Não, definitivamente não!

(Joga o envelope com a passagem em cima da cama e de dentro cai um pedaço de papel. Ela lê.)

Helen:
"Ao norte sempre que preciso
Sentido inverso do universo em que existo..."

Pai, o fantasma:
"... e no branco encanto das terras frias
ela, pequena, se encaminha ao topo
ponto de encontro de nós dois."
  

Um comentário:

  1. A idéia que estou tentando investigar nesta peça é que o passado é o grande Antagonista da personagem. É ele que faz o presente se mover ou não. É curioso como não existe um antagonista físico. O presente é totalmente abalado e revirado quando o passado se manisfesta.

    ResponderExcluir