(Helen imóvel em seu apartamento observa uma mala de viagem vazia em cima da cama. Gavetas abertas e reviradas, como na cena anterior.)
Helen:
Estava escuro, mas apenas porque as cortinas estavam fechadas. Lá fora fazia o dia mais lindo que já se viu. Talvez o último dia realmente lindo de sua vida. Podia se ouvir as crianças brincando na rua, crianças que há uns dia atrás o acompanhavam nas caminhadas matinais e lhe perguntavam sobre a passagem do tempo, de como o dia virava noite, queriam sempre saber pra onde iriam as coisas quando o mundo ficava escuro.
(Pega roupas de uma gaveta, dobra gentilmente e coloca em outra gaveta. Repete o mesmo ato várias vezes.)
Helen:
Crianças curiosas, ele dizia. Ele, por sua vez , perguntava a elas sobre seus sonhos e pesadelos, sobre o doce e o azedo da próxima sobremesa. E depois... sem ele.. elas se acostumaram a passar o tempo acompanhado outra caminhada. Um rastro de formigas pelo corrimão da escada. Em silêncio, sem preguntas. A porta aberta, sem retorno. O cheiro de café na casa... Como se todo açúcar do mundo pudesse amenizar o amargor daquela manhã. Ele tinha ido embora.
(Fecha a mala de viagem vazia sobre a cama.)
Helen:
Muito cedo, cedo demais pra mim. Não estavamos prontos. Ainda não estou.
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