quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Cena 6 - Um bilhete escrito em códigos

(Helen Jovem, porém menos radiante. Limpando o interior da gaiola do pássaro, cortinas do apartamento semi-abertas, deixando um bom feixe de sol entrar, o suficiente para iluminar apenas a gaiola. Tocam a campainha. Helen paraliza. Mais uma vez tocam a campainha. Cobre a gaiola, vai até a janela, olha a rua.)

Homem: (batendo na porta)
Helen? Querida? Abra a porta?

(Silêncio. Helen vai até a porta, mas não abre)

Homem:
Helen? Eu sei que você está aí. Eu... tenho notícias... Abra a porta.

(Helen abre a porta. Homem, o mesmo da primeira cena, porém mais novo, entra. Observa o apartamento.) 

Homem:
Está um pouco escuro aqui. Eu não consigo te ver direito.

(Helen acende um cigarro)

Helen Jovem: 
Estou bem aqui. Esperando as notícias que você me trouxe.

Homem:
Helen... Pequena...  Você está diferente. Quanto tempo...

Helen Jovem:
Dois anos.

Homem:
Seis.

Helen Jovem:
Seis? O tempo é tão... 

Homem:
Você preservou o apartamento! Do mesmo jeito que ele deixou. Incrível! Parece que voltei no... 

Helen Jovem:
Como foi?

Homem:
Helen, ninguém sabe... nem como foi, nem quando foi... Só sabemos que nós o perdemos. Pudemos ver fotos, mas não sabemos onde o corpo foi enterrado.

Helen Jovem:
Quero... vê-lo. 

Homem:
Não vai ser possível. Eu sinto muito. 

Helen Jovem:
Você... era pra você ter ajudado. 

Homem:
Eu fiz tudo que eu pude. Tirei ele do país, mantive contato. Tínhamos até uma certa facilidade para trocar informações. mas algo aconteceu... e nós o perdemos.

Helen Jovem:
Você falava com ele? Esse tempo todo vocês mantinham contato? E você nunca pensou que eu pudesse... Ele me mandou algum recado nesses possíveis contatos? Um bilhete escrito em códigos, sei lá... Alguma... palavra? 

Homem:
Helen... Os originais do livro, você ainda os guarda?

(O pássaro começa a se agitar na gaiola)

Helen Jovem: 
Sim.

Homem:
O que vai fazer com eles?

Helen Jovem:
O que há pra se fazer?

Homem:
Você leu?

Helen Jovem:
Eu sei as idéias do meu pai de cor. Eu vi cada pensamento surgir, cada palavra dele transformada em letra.  

Homem:
Pois você deveria ler. E entender não só o que ele quis ensinar para os outros, mas o que ele espera de você.

(O pássaro cada vez mais agitado)

Helen:
Ele se foi. Ele não espera mais nada de mim. 

Homem:
Você deveria sair desse apartamento. É só isso que eu acho. 

Helen Jovem:
Não. Eu fico. Mais uma vez...

Homem:
Muito bem. Mas se vai ficar, você deveria fazer alguma coisa por ele. (Aponta para a gaiola) E por você. Não se aprende a voar desse jeito.

2 comentários:

  1. Correndo o risco de dizer uma tremenda bobagem, acho que o pássaro agitado é o lado emocional de Helen (apesar da aparente indiferença dela).

    ResponderExcluir
  2. É Fabio, é isso aí. O pássaro se encontra tão preso e "descuidado" como o lado emocional dela. Ela cuida dele, mesmo pq no sentido racional dela, o pássaro é um elo com o pai. Mas no nível subconsciente, esse "lado emocional" dela, ela não está pronta para cuidar, sempre cobre com cortinas o que não quer ver.

    ResponderExcluir