(Helen Jovem, porém menos radiante. Limpando o interior da gaiola do pássaro, cortinas do apartamento semi-abertas, deixando um bom feixe de sol entrar, o suficiente para iluminar apenas a gaiola. Tocam a campainha. Helen paraliza. Mais uma vez tocam a campainha. Cobre a gaiola, vai até a janela, olha a rua.)
Homem: (batendo na porta)
Helen? Querida? Abra a porta?
(Silêncio. Helen vai até a porta, mas não abre)
Homem:
Helen? Eu sei que você está aí. Eu... tenho notícias... Abra a porta.
(Helen abre a porta. Homem, o mesmo da primeira cena, porém mais novo, entra. Observa o apartamento.)
Homem:
Está um pouco escuro aqui. Eu não consigo te ver direito.
(Helen acende um cigarro)
Helen Jovem:
Estou bem aqui. Esperando as notícias que você me trouxe.
Homem:
Helen... Pequena... Você está diferente. Quanto tempo...
Helen Jovem:
Dois anos.
Homem:
Seis.
Helen Jovem:
Seis? O tempo é tão...
Homem:
Você preservou o apartamento! Do mesmo jeito que ele deixou. Incrível! Parece que voltei no...
Helen Jovem:
Como foi?
Homem:
Helen, ninguém sabe... nem como foi, nem quando foi... Só sabemos que nós o perdemos. Pudemos ver fotos, mas não sabemos onde o corpo foi enterrado.
Helen Jovem:
Quero... vê-lo.
Homem:
Não vai ser possível. Eu sinto muito.
Helen Jovem:
Você... era pra você ter ajudado.
Homem:
Eu fiz tudo que eu pude. Tirei ele do país, mantive contato. Tínhamos até uma certa facilidade para trocar informações. mas algo aconteceu... e nós o perdemos.
Helen Jovem:
Você falava com ele? Esse tempo todo vocês mantinham contato? E você nunca pensou que eu pudesse... Ele me mandou algum recado nesses possíveis contatos? Um bilhete escrito em códigos, sei lá... Alguma... palavra?
Homem:
Helen... Os originais do livro, você ainda os guarda?
(O pássaro começa a se agitar na gaiola)
Helen Jovem:
Sim.
Homem:
O que vai fazer com eles?
Helen Jovem:
O que há pra se fazer?
Homem:
Você leu?
Helen Jovem:
Eu sei as idéias do meu pai de cor. Eu vi cada pensamento surgir, cada palavra dele transformada em letra.
Homem:
Pois você deveria ler. E entender não só o que ele quis ensinar para os outros, mas o que ele espera de você.
(O pássaro cada vez mais agitado)
Helen:
Ele se foi. Ele não espera mais nada de mim.
Homem:
Você deveria sair desse apartamento. É só isso que eu acho.
Helen Jovem:
Não. Eu fico. Mais uma vez...
Homem:
Muito bem. Mas se vai ficar, você deveria fazer alguma coisa por ele. (Aponta para a gaiola) E por você. Não se aprende a voar desse jeito.
Correndo o risco de dizer uma tremenda bobagem, acho que o pássaro agitado é o lado emocional de Helen (apesar da aparente indiferença dela).
ResponderExcluirÉ Fabio, é isso aí. O pássaro se encontra tão preso e "descuidado" como o lado emocional dela. Ela cuida dele, mesmo pq no sentido racional dela, o pássaro é um elo com o pai. Mas no nível subconsciente, esse "lado emocional" dela, ela não está pronta para cuidar, sempre cobre com cortinas o que não quer ver.
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